sábado, 30 de janeiro de 2010

Família recebe cerca de 700 desabrigados em São Luiz do Paraitinga

Na casa e no coração da aposentada Carmelina Rocha, de 70 anos, cabem 9 filhos biológicos, 19 que ela criou para o mundo e 11 netos. Mas também ficaram sob o teto dela cerca de 700 pessoas ao longo de pelo menos cinco dias. Eram vítimas da enchente que devastou a pequena São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, em 1º de janeiro. A tragédia completa um mês e, Lica, como a agricultora é conhecida, ainda tenta pôr a chácara e a vida em ordem.
 “Até agora a casa não voltou ao lugar”, conta a mulher, que abrigou e deu de comer a moradores e turistas durante o temporal. Alguns ficaram por 15 dias. Na tarde de quarta-feira (27), quando recebeu a Globo para uma conversa, ela ainda lavava tapetes e arrumava os colchões que cedeu aos hóspedes; muitos deles desconhecidos. “Abri minha casa e meu guarda-roupa. Disse que podiam pegar o que precisassem.”

Localizada e 182 km de São Paulo e com população de aproximadamente 10 mil habitantes, a cidade ficou debaixo d’água no primeiro dia de 2010. O Rio Paraitinga transbordou, chegando a cobrir o teto das casas. A Igreja Matriz foi ao chão e as pessoas tiveram de ser resgatadas de bote por instrutores de rafting e pelos bombeiros.

No sítio da família Rocha, a poucos minutos do centro histórico, a chuva não trouxe danos. Só gente aos montes. O que sobrou da ceia de fim de ano e das compras que seriam do mês acabou em poucos dias. “Fiz feijão, macarrão, salada, bolo. E tínhamos matado duas leitoas para o dia do ano (novo). A sorte é que eu estava prevenida”, lembra Lica, rindo.  Assustados com tanta gente chegando de bote no meio da tempestade - até o helicóptero da PM pousou no terreno do Sítio São Benedito para resgatar algumas pessoas – os Rocha não pensaram duas vezes: Valdo, de 49 anos, foi atrás de leite. E o irmão Benedito, 51, tratou de distribuir a água da mina para os visitantes.

Junto com um fazendeiro amigo, Valdo usou o barquinho de remo da pescaria para chegar ao pasto e tirar o leite de 80 vacas. “Em um dia, eu trouxe 200 litros em quatro galões. Não durou cinco minutos”, diz o agricultor, que conta ter percorrido 18 km. “Fomos remando pelo rio, mas, onde não dava, colocamos o barco nas costas e subimos o morro. Fiquei com o ombro todo esfolado”, afirma o Luizense, que ri da aventura.


Na propriedade da família Rocha – dona Lica e o marido chegaram a São Luiz do Paraitinga há 50 anos – existem oito casas. “Gosto dos filhos e netos por perto”, justifica a matriarca, que acomodou os hóspedes na sala, nos quartos, na varada e onde coubessem. “Só aqui dormiram 50 pessoas”, afirma ela, indicando um cômodo.


Os desabrigados que ficaram sob a asa de Lica deixaram saudades. “Não estranho a casa cheia. É um prazer.” Para a senhora de jeito tímido e acolhedor, a solidariedade parece não ter limites. “Acho que ainda fiz pouco pelo tanto que o povo de Paraitinga merece. Só peço proteção divina a eles e a meus filhos”, pede a agricultora, dessa vez, sem segurar as lágrimas.

1 comentários:

Bruna Ferreira disse...

deve ser ruim ter varias pessoas em sua casa ainda mais 700 pessoas mas é por uma boa causa...

rsssss matheus um abraço e o seu blog é o maximo...

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